sábado, 10 de março de 2012

A Vida da Gente?



A Rede Globo acaba de encerrar uma novela, chamada “A Vida da Gente”. Não acompanho religiosamente novelas, mas esta me chamou atenção. Tinha enredo leve, sem explorar pornografia e acabava me prendendo quando tinha tempo disponível no início da noite. Trazia histórias do dia a dia, mas também não deixava de lado o drama comum a estas produções televisivas.
No fundo, eu tinha esperança de que a história não teria um final previsível. Mas, teve. Atores foram convidados para que, no último capítulo, a maioria dos personagens tivesse um par. Este é um encerramento comum a todas as produções brasileiras, mas não vejo sentido nele. Ainda mais em uma novela que trazia até no nome o ‘compromisso’ de contar histórias do cotidiano das pessoas. E esta preocupação com o casamento que a sociedade desenvolveu, a meu ver, é uma grande pressão desnecessária.
Não. Não estou dizendo que sou contra o matrimônio, pelo contrário, sou muito feliz por ter escolhido este caminho para a minha vida. Porém, defendo que ele deve acontecer quando duas pessoas resolvem por si que vão construir uma família. Quando dois realmente são mais que um, somando e crescendo juntos. Não por simples imposição da sociedade.
Além disso, as novelas – e muitas pessoas que conheço – defendem que só há felicidade a dois. Sim, não nascemos para viver sozinhos, mas há momentos na vida que uma amizade ou a companhia da família nos suprem. Então pra quê esta necessidade de seguir uma busca incessante até encontrar ‘a tampa da panela’? Assim como nas novelas, muitos crescem pensando e planejando o casamento, mas acredito que para isso não deve haver uma regra. Conheço casais que se conheceram aos 40 e são felizes. Outros que cresceram juntos e ainda vivem o primeiro amor. Casamento é consequência, não regra. Na vida ‘real’ não – deveria – há(ver) esta necessidade. A felicidade não pode estar atrelada a um relacionamento. Mesmo em um casamento, defendo a individualidade e a possibilidade de ser feliz sozinho.  

Artigo publicado no Jornal O ECO em 08.03.2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Que o ano comece então...

Na Quarta-feira de Cinzas um dos principais assuntos comentados era o velho jargão de que no Brasil as coisas só funcionam depois do Carnaval. No Twitter, ‘Feliz Ano Novo’ foi o primeiro no ranking dos Trending Topics quase durante o dia todo. A maioria dos usuários da rede social reclamava da piada, mas não deixava de concordar que o brasileiro deixa para começar realmente depois da folia.
Já que é senso-comum, que o ano comece então. Que tenhamos mais deputados reclamando da falta de projetos em pauta para serem votados. Afinal, se os escolhemos como nossos representantes, que o façam em período integral. Que estejam de olhos bem abertos mesmo durante a folga. Que tristes episódios, como o da apuração do Carnaval de São Paulo, por exemplo, sirvam de gancho para aumentar a discussão.
Aqui, quero abrir parênteses para dizer que a solução para esta violência sem medida é a Educação. Acredito que mais do que investimento em segurança – que tem sido anunciado em São Paulo – a solução para a maioria dos problemas está na Educação. E quero aqui dividir as coisas: ensinar sobre moral e bons costumes ainda é função da família. O Estado também não precisa carregar toda a responsabilidade. Mas, um governo que investe em boas escolas, incentivando a leitura e formando cidadãos críticos e conscientes jamais verá uma briga generalizada protagonizada por pessoas que não aprenderam o verdadeiro sentido de uma competição.



E, voltemos ao ‘início’ do ano. Que seja um início para nós mesmos. Precisamos aprender a não deixar para depois. O momento sempre é agora. Mas, se mais uma vez esperamos passarem as festas para tomar atitudes, que os planos saiam do papel. Deve haver uma explicação científica para esta nossa necessidade de procurar uma data-marco, em geral, no início. É preciso aguardar até a segunda-feira para uma dieta ou 1º de janeiro para cumprir promessas. Se esta era a desculpa que faltava, arregacemos as mangas e vamos à luta. Aquele ditado que diz: “Quem espera sempre alcança” não pode ser mal interpretado. Esperança sim, comodismo não!

Artigo publicado em 23.02.2012 pelo Jornal O ECO

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Brincando com a responsabilidade

O Carnaval será comemorado na terça-feira, 21, mas a tradição dos desfiles de rua em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo e as folias no nordeste, comandadas principalmente pelos estados de Pernambuco e Bahia, prolongam a data, fazendo com que a festa comece entre hoje e amanhã. Este, talvez, seja o feriado mais esperado pelos jovens. A festa popular é sinônimo de alegria, descontração e quebra de limites. Mas, é preciso responsabilidade.
Ouvi uma frase hoje que me fez refletir. Uma destas revistas destinadas ao público feminino trouxe uma matéria que encerrava com o pensamento: “Lembre-se que na quarta-feira tudo volta ao normal”. Ao comentar sobre a leitura, uma amiga disse se preocupar com as consequências das atitudes inconsequentes que são tomadas durante estes dias de festa.


A colocação foi muito feliz. Parece que as pessoas esqueceram os limites da saúde, da responsabilidade com o bem mais valioso, que é a própria vida. Só porque é Carnaval pode tudo. Não acredito que exista promiscuidade ou alcoolismo de Carnaval.
Uma festa não deveria ser utilizada como desculpa para os excessos. Mas também, pudera. Historiadores afirmam que o Carnaval já foi criado para este fim. Os últimos dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas, primeiro dia de Quaresma para os católicos, sempre foram marcados por festividades relacionadas aos “deleites dos prazeres da carne”. A palavra seria originária do latim, sendo ‘carnis’ em latim carne e ‘valles’ prazeres. Até o dicionário Michaelis em uma de suas definições para a palavra Carnaval traz orgia como sinônimo.
Cabe a cada um de nós analisar suas próprias escolhas. Um momento de deslize pode trazer consequências para toda a vida. Realmente, na quarta-feira tudo volta ao normal e, dependendo de como a festa foi ‘vivida’, a dor de cabeça pode ser eterna e a ressaca moral. Analisemos. 

Artigo publicado em 15.02.2012 pelo Jornal O ECO