terça-feira, 23 de outubro de 2007

SUGESTÃO DE LEITURA


MEDIA LITERACY E JORNALISMO


A National Society for the Study of Education publica, desde 1895, uma série de livros temáticos, os “The Yearbook”. Antes chamada de “National Herbart Society”, a sociedade foi transformada na NSSE em 1901 por educadores estadunidenses – entre eles John Dewey.

Em 2005, eles publicaram 0 104º yearbook, com o título “Media Literacy: transforming curriculum and teaching” (Educação para a mídia – transformando o currículo e o ensino). São 18 artigos, abordando diversos assuntos ligados ao tema maior da mídia na educação escolar.

Chamou minha atenção o capítulo “Uniformed in the information age: why media necessitate critical thinking education” (Desinformado na era da informação: porque a mídia requer educação para o pensamento crítico), escrito por J. Lynn McBrien, pesquisador que trabalhou como jornalista para a CNN.

Primeiro, ele conta uma experiência que viveu, para depois tecer considerações sobre os efeitos da cobertura jornalística fragmentada na formação de preconceitos. No final, ele propõe algumas formas de tratamento da notícia em atividades de media literacy, baseado na sua experiência tanto como pesquisador, quanto como jornalista.

A experiência é essa: em 2004, a Universidade de Atlanta convidou Mary Robinson (ex-presidente da Irlanda e membro da Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas) para uma conferência. Em 2001, ela havia participado de uma conferência da ONU na África do Sul, que foi noticiada com destaque por causa dos conflitos entre as delegações da Palestina e de Israel. Acusando membros do evento de serem anti-semitas, por causa do teor de algumas discussões, as delegações de Israel e dos Estados Unidos abandonaram a conferência. Essas acusações ganharam as manchetes dos jornais estadunidenses.

Em 2004, com o anúncio da visita de Robinson, o jornal do campus de Emory da Universidade de Atlanta publicou uma matéria dizendo que uma palestrante anti-semita estava sendo convidada para participar do evento. Essa matéria motivou um estudante a fazer uma petição online solicitando o cancelamento da palestra de Robinson.
McBrien, o jornalista, esteve na África do Sul, testemunhou os debates e disse que as discussões complexas e conflituosas (por causa do próprio teor do assunto que reunia as pessoas ali) foi tratado de maneira estereotipada e sensacionlista pela imprensa norte americana. Deu no que deu.


Assim ele explica as razões do engano:“Uma explicação para a habilidade das pessoas em processar e ser afetadas pelas mensagens da mídia – até mesmo por aqueleas em que os leitores não prestam muita atenção – vem da teoria cognitiva social. Os psicólogos sociais cognitivos Tajfel e Taylor explicam que as pessoas desenvolvem atalhos cognitivos - chamados de ‘heurísticos’ – com o objetivo de manejar a enorme quantidade de informação que elas precisam processar em um único dia. A não ser que elas percebam que uma crença, uma suposição ou uma ação possam lhes custar dinheiro, tempo ou reputação, as pessoas tendem a ser ‘avarentas cognitivas’, e se apoiam em atalhos, como por exemplo os estereótipos, para determinar suas respostas e atitudes. Porque as pessoas tendem a conceber mídias como a televisão, o rádio e muitas revistas como atividades de lazer, elas tendem a não usar habilidades de pensamento crítico nessas horas, a não ser que elas sejam educadas para isso.”O raciocínio básico é o de que, considerando que a tecnologia, as rotinas de produção e as características institucionais das corporações de mídia acabaram gerando um tipo específico de jornalismo – fragmentado, apelativo, mais entretenimento do que informação – é de se esperar que as notícias, no longo prazo, gerem uma mentalidade ajustada ao processamento mais da quantidade do que de qualidade.

Diante deste cenário, McBrien propõem que o educador forneça um quadro de referências críticas para a compreensão das mensagens jornalísticas similar à abordagens das questões básicas da notícia (Quem? O quê? Como? Quando? Onde? Por quê?), nesses termos:

Quem – qual é a fonte da informação?
Disse o quê – qual é o conteúdo e qual é a ideologia subjacente?
Para quem – quais são as características da audiência para qual essa mensagem é endereçada?
De que modo – quais são os recursos tecnológicos, as convenções e o estilo?
Com que efeitos - como os elementos técnicos e simbólicos afetam o resultado final da mensagem?Por que desse jeito – propósito político, propósito de lucro
?

Por Alexandra Bujokas em: BLOG DA MÍDIA EDUCAÇÃO

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